Cantora avalia seus 20 anos de carreira, reflete sobre as lições que a pandemia da Covid-19 trouxe e se derrete pela neta, Sol de Maria; confira!
 
Rio - A cantora Preta Gil, de 48 anos, completa duas décadas de carreira este ano e se orgulha de sua trajetória. A artista quebrou barreiras, enfrentou preconceitos, mostrou seu talento, versatilidade e um vasto repertório musical. Mais madura, a filha de Gilberto Gil admite que, com o passar dos anos, se sente plena e afirma que não tem mais a necessidade de provar nada para ninguém. 


"Construí uma história muito sólida nesses 20 anos, tenho uma carreira muito bonita. Passando por todos os obstáculos que passei, as adversidades, as críticas, os descréditos que me foram dados, conquistei muita coisa. Sou uma cantora realizada. Vivo da minha arte, construí coisas importantes, emblemáticas para a música, na minha opinião, como o 'Bloco da Preta'. Tenho muitas vitórias nesses 20 anos, que me dão hoje uma paz, uma plenitude que eu não tinha. Comecei tarde a minha carreira, comecei com 28 anos. Eu era um fio desencapado, louco, atirando pra qualquer lado e foi importante", reflete.


A artista ainda compara a Preta de 20 anos atrás com a de hoje. "Ela tem coisas que não mudaram. Um fogo dentro de mim, uma chama por inventividade, novidade, que não apagou. Sou uma cantora eclética, gosto de flertar com toda a diversidade que a música brasileira tem. Mas sou uma mulher que amadureceu. Não tenho mais a necessidade de provar nada pra ninguém, não tenho mais a necessidade de me impor", afirma ela, que completa: "Digo que tive sorte. Fiz tudo o que quis na minha vida, sempre respeitando o meu corpo físico, minha saúde mental. Mas sou de outra geração. Sou de uma geração em que adolescente e jovem não tinham internet. Sou uma mulher muito transparente. Há 20 anos lancei o álbum 'Prêt-à Porter' que foi um divisor de águas na sociedade. Uma mulher negra, gorda, bissexual, falando abertamente sobre esses assuntos, tabus que a sociedade tem até hoje. Há 20 anos eu era um ET".


Cheia de atitude e liberta dos padrões, a cantora chegou a ser considerada uma pessoa polêmica. "Lembro que como não havia a palavra empoderamento, tudo o que eu falava e fazia era tido como polêmico. E hoje não é mais polêmico ser você.

Ser você é ser autêntico. E há 20 anos eu não era autêntica, era polêmica. E isso foi muito complicado também, porque você tem que ir desfazendo esses rótulos que as pessoas impõem em relação a você. E muitas vezes você cai nessas armadilhas e acredita nesses rótulos. Nunca fui polêmica, sempre fui autêntica, verdadeira. Acho até que eu possa ter sido ingênua.

Ingênua em achar que a sociedade estava preparada para falar de certos assuntos há 20 anos. Até hoje a sociedade não está preparada". 


Próximos 20 anos


Ao ser questionada sobre o que espera para os próximos 20 anos, Preta Gil é direta. "Tudo de novo. Descobertas, parcerias, inventividade, novidade, futuro, tecnologia, mais netos, crianças na família, realizações, união entre nós, conquistas para as minhas bandeiras e que eu possa colaborar cada vez mais e potencializar outras carreiras. Minha existência, nesse momento, deixa de ser sobre mim e passa a ser sobre o coletivo. Quero jogar luz nas pessoas, luz nos artistas que acredito, ver meu filho (Francisco Gil) se realizar, como ele está se realizando, ver minha neta (Sol de Maria) crescer. Daqui a 20 anos, ela adulta, nem sei como vai ser", afirma a artista, aos risos.


Carnaval na Sapucaí


Mesmo com o adiamento dos desfiles das escolas de para o fim deste mês, a cantora se sente mais confortável em assistir ao espetáculo pela televisão. "Não vou para a Sapucaí. Vou ver pela televisão, vai ser o máximo. Não vou por algumas opções. Acho que é mais necessário que exista, a gente está em um momento seguro para isso, foi muito prudente que se esperasse. O quadro (da pandemia da covid-19) de fevereiro para agora é outro, melhorou muito. A gente tem uma taxa de vacinação maior. Vai ser um Carnaval bonito e necessário, para que as escolas possam colocar suas alegorias, sua alegria, inventividade na Avenida. Mas não vou participar ainda", comenta ela, que revela para quem vai sua torcida. "Vou torcer pela Mangueira, para que o desfile seja lindo. Aliás, vou torcer para todas as escolas", diverte-se. 


No ano que vem, Preta promete voltar com todo o gás. "Vou esperar o Carnaval 2023. Fiz esse pacto comigo mesmo. É um pacto não só de prudência, foi tudo tão difícil, tão doloroso... Quero voltar, mas quero voltar inteira, com toda força". 


Lições da pandemia


A pandemia do novo coronavírus fez com que as pessoas refletissem sobre a maneira que levavam a vida e suas prioridades. E com a artista não foi diferente. "Eu não parava. Tinha uma média de 8 a 12 shows por mês, junto com as outras coisas que fazia. De repente, o freio de mão foi puxado. Quando me vi, estava trancada. Foi inevitável que a gente reorganizasse nossos valores, vontades, desejos. Hoje tenho um valor à vida... Eu perdi meu melhor amigo (o ator e humorista Paulo Gustavo), minha avó.  Foi muito sofrido ver tudo o que a gente testemunhou", desabafa ela, que conseguiu dar a volta por cima. "Nesse fundo do poço, voltei com uma vontade de mudar muitas coisas na minha vida. Mudei para uma casa pra eu ter mais qualidade de vida. Diminuí meu ritmo, tenho mais critério para aceitar as coisas. Quero fazer coisas com mais qualidade, calma, mais entrega. Tenho dado mais valor a minha saúde, tenho cuidado mais do meu emocional, da minha espiritualidade. Não virei a Preta zen, mas estou mais centrada, mais calma", admite.
 
Neste período de isolamento social, ela também focou em outros aspectos profissionais. "Pude também olhar e traçar planos para outros negócios. Foram dois anos que não fiz show, a gente não estava na estrada. Mas a gente pode trabalhar outras carreiras, outros artistas. Teve a tristeza profunda, o luto de parar de trabalhar, das perdas... Mas eu também pude jogar minha energia em outras coisas, artistas, negócios e isso foi muito prazeroso. Agora que a cantora está de volta, existe um conflito da gente entender como as coisas vão se organizar", brinca. 


Múltiplas funções


Empresária, cantora, esposa, mãe, vovó... Preta comenta como consegue lidar com suas várias funções sem surtar. "Isso é amor, fazer coisas que te dão prazer. Como você não cuida de quem você ama? Você cuida. Dá trabalho cuidar de casa, colaborar com a criação da neta, mas é muito prazeroso. Amor não cansa. O que cansa é fazer coisas que você não gosta, é obrigada. Hoje a minha vida é dura, árdua, de muito trabalho, não paro. Sou workaholic, sim, mas é diferente", explica.


Vovó coruja


Preta Gil se derrete toda ao falar sobre sua neta, Sol de Maria, de 6 anos. A pequena é fruto do relacionamento do filho da cantora, Francisco Gil, com a ex-mulher, a modelo Laura Fernandez. "É uma paixão muito grande, é um amor condicional. Só quem é avó sabe. O amor é dobrado. Você sente um amor incondicional por aquele ser, que você está vendo crescer, que você pode colaborar para a criação dela, mas, ao mesmo tempo, não é sua filha. É filha do seu filho. Aí o amor pelo filho duplica, triplica, por ver o homem que ele é, o pai que ele é. Ele é incrível para ela. É muita baba, tem que fechar a boca.

Também é uma tarefa árdua, criar uma criança nos dias de hoje não é fácil. Mas nós temos uma união grande", destaca. 


Fonte: ODiaOnline/Isabelle Rosa/Alex Santana



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